CURADORIA DE EMILY KING
Divididas por vários núcleos em diferentes espaços, a exposição Sidelines vai integrar colecções privadas, captadas local e internacionalmente, no seio de museus e instituições lisboetas menos conhecidos do grande público. O facto da cidade possuir um surpreendente vasto número de espaços desta natureza é uma herança da sua longa história enquanto centro de tráfego e transacções comerciais.
A juntar e organizar os seus pertences desde os tempos Romanos, foi na era pós-terremoto de 1755 que os cidadãos de Lisboa começaram a colocar os seus espólios em exposição. Hoje em dia, as colecções da cidade cobrem um largo espectro, desde ferramentas pré-históricas em pedra lascada a instrumentos das ciências exactas.
O itinerário de Sidelines estende-se desde o Museu Geológico a Oeste até ao Museu de Artes Decorativas a Este, passando pelo Museu da Farmácia, Biblioteca Municipal Camões, Museu de São Roque e Museu do Teatro Romano. Fazendo eco da diversidade destas instituições, as colecções provêm de várias fontes, incluindo curadores, artistas, designers, autores, crianças e animais. Entre outras, vai incluir um espólio de capas de álbuns em vinil obsessivamente coleccionadas, um acervo de revistas construído ao longo de vários anos, um acarinhado conjunto de vernizes de unhas e uma série de paus farejados e descobertos à custa de muito empenho. O processo de casar as colecções com as instituições girou em torno de necessidades de igual grandeza: construir uma argumentação, levar os visitantes de Lisboa num périplo por alguns dos seus pontos mais singulares e criar um roteiro agradável.
Controvérsia, pragmatismo e lirismo – todos foram convocados no desenho deste projecto. Reflectindo o perfeito alinhamento destes valores, o itinerário de Sidelines segue o do popular eléctrico nº28.
Convidando os visitantes a desfrutar de justaposições inesperadas, Sidelines questiona noções de valor e utilidade em relação ao acto de coleccionar.
Curiosidade e obsessão. Pedagogia e vaidade, o desejo de preservar ou o medo da perda irreparável: os impulsos que movem os coleccionadores são numerosos e complexos. De igual modo, quando acumuladores compulsivos saem da esfera privada para publicamente doar os seus bens a museus, ou mesmo fundar instituições próprias, as suas motivações serão múltiplas e ambíguas. De modo geral, enquanto a missão educativa e a construção de uma narrativa histórica são considerados objectivos válidos e úteis, a compulsão ou competitividade comum entre os coleccionadores são vistos numa luz bastante menos favorável. A realidade é que variantes destes impulsos coexistem na maioria dos coleccionadores, quer se trate de indivíduos ou entidades.
Igualmente significante, Sidelines propõe-se explorar a forma como o espírito das colecções tende a transformar-se com o tempo, à medida que objectos outrora tidos como banais ganham valor – monetário mas também simbólico – e o lixo de uma era se converte nos tesouros de outra. Os visitantes poderão acompanhar o percurso de Sidelines num mapa especialmente desenhado que, para além de indicar os núcleos expositivos, assinalam locais de interesse que incluem instituições bem como lojas, bares e cafés.
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Emily King